
Em uma cidade onde o som dos tiros ecoa mais alto que o das escolas e o medo se confunde com rotina, o Rio de Janeiro foi novamente palco de uma megaoperação policial.
A manhã desta terça-feira, 28, terminou com o saldo de 64 mortos e 81 presos, em mais uma ação que rapidamente entrou para o ranking das mais letais da história fluminense — um marco sombrio em um Estado acostumado a contabilizar tragédias.
Batizada de ‘Operação Contenção’, a ação reuniu forças estaduais e rapidamente acendeu o embate político entre o governo de Cláudio Castro e o Governo Federal.
Sem aviso prévio a Brasília, as forças policiais transformaram comunidades inteiras em zonas de guerra. Helicópteros Águia sobrevoaram as favelas como plataformas de tiro; escolas, postos de saúde e comércios fecharam.
Megaoperações mais letais do Rio de Janeiro
- Operação contenção (2025) – 64 mortos
- Guerra do Rio (2010) – 39 mortos
- Chacina do Jacarezinho (2021) – 29 mortos
- Chacina da Vila Cruzeiro (2022) – 25 mortos
- Complexo do Alemão (2007) – 19 mortos
- Guerra no Alemão (2022) – 17 mortos
Guerra do Rio (2010): blindados nas favelas

Entre 20 e 28 de novembro de 2010, o Rio viveu a chamada “Guerra do Rio de Janeiro”.
Facções criminosas organizaram ataques e incendiaram 181 veículos, espalhando pânico pela cidade.
O saldo foi de 39 mortos e 270 presos, além da retomada simbólica do território com bandeiras do Brasil e do Rio hasteadas no alto do teleférico.
O episódio marcou o início das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), apresentadas como solução para a violência, mas que logo se mostraram insustentáveis e desumanas.

O 6 de maio de 2021 ficou registrado como a segunda operação mais letal do Rio de Janeiro.
Batizada de Exceptis, a incursão da Polícia Civil no Jacarezinho terminou com 29 mortos, entre eles um policial civil e 28 moradores.
A justificativa oficial era o combate ao tráfico e ao aliciamento de menores. Mas a operação desrespeitou a decisão do STF que limitava ações em favelas durante a pandemia.
O massacre foi destaque em jornais internacionais como The Guardian, BBC e The New York Times, e consolidou o Jacarezinho como símbolo de uma política de segurança pública falida, que confunde enfrentamento com extermínio.
Vila Cruzeiro (2022): a segunda chacina no governo Castro

Em 24 de maio de 2022, o Complexo da Penha foi palco de uma nova tragédia: 25 mortos e 6 feridos em uma operação da PM e do BOPE na Vila Cruzeiro.
Entre as vítimas estavam Gabrielle Ferreira da Cunha, de 42 anos, e Natan Werneck, de 21 — ambos sem antecedentes criminais.
Entidades como o Fogo Cruzado, a FAFERJ e a Defensoria Pública classificaram a operação como uma “caçada humana”, marcada por falta de planejamento e motivação eleitoral.
Complexo do Alemão (2007): o prenúncio do caos

Antes de todas as outras, 27 de junho de 2007 já anunciava o que viria.
Com 2.600 agentes entre polícias e Forças Armadas, a operação no Complexo do Alemão buscava garantir a segurança dos Jogos Pan-Americanos.
Relatórios da ONU e da Secretaria de Direitos Humanos apontaram execuções e uso desproporcional da força.
Foi o início de um padrão que se repetiria por décadas — o Estado invadindo favelas, e a população pagando o preço.

Em julho de 2022, o Complexo do Alemão voltou ao centro da dor.
Durante 12 horas de operação, policiais civis e militares invadiram casas, arrombaram portas e atiraram de helicópteros, deixando 17 mortos — apenas 8 deles com antecedentes criminais.
A ação paralisou a região: escolas, comércios e unidades de saúde foram fechadas.
Foi a terceira chacina em pouco mais de um ano de governo Cláudio Castro, que segue defendendo a política de “tolerância zero” — mesmo quando ela significa cemitérios cheios e comunidades devastadas.
Fonte: Atarde, 28/10/2025



