Enquanto Neymar republicava, ontem, foto com a camisa do Santos, fazendo questão de destacar que é a camisa onze ‘mais pesada do mundo’, o grupo DIS finalizava a estratégia com seus advogados para o embate jurídico que promete desviar o foco do atacante de 30 anos da Copa do Mundo do Catar.
E que pode custar R$ 132 milhões, mais a ameaça de prisão por dois anos, e a impossibilidade de jogar na Europa, por também dois anos. Fora multas.
Daqui exatamente 13 dias, Neymar terá de enfrentar um processo muito sério, em Barcelona.
Depois de sete anos de batalha, o grupo DIS, do empresário Delcir Sonda, conseguiu levar o jogador à Justiça.
Delcir, acionista majoritário da rede de supermercados Sonda, tem um patrimônio de, pelo menos, R$ 4 bilhões.
Ele diz que não processa Neymar pelo dinheiro. Mas por uma questão de honra.
E não é só Neymar seu alvo no processo. O pai, a mãe, Nadine, sócia da empresa N&N Consultoria, o Barcelona e seus ex-presidentes Sandro Rosell e Josep Maria Bartomeu.
Mais o Santos e seu ex-presidente Odílio Rodrigues.
Em 2017, o Superior Tribunal da Espanha recusou os váriois recursos da defesa de Neymar e todos os envolvidos.
A situação é séria.
O grupo DIS, que comprou 40% do jogador, quando ele ainda estava no Santos, não era nem profissional. Em 2009, alega que foi ludibriado na ida de Neymar para o Barcelona. E exige 25 milhões de euros, cerca de R$ 132 milhões, de indenização.
Delcir já revelou que ele foi procurado pela diretoria do Santos para comprar 40% do atleta, por R$ 5 milhões, porque o clube já não tinha condições financeiras de segurá-lo, diante das propostas da Europa.
De maneira direta, a DIS acusa os réus de terem armado um complô para esconder a quantia real envolvida na ida de Neymar para o Barcelona. Manobra para não pagar os 40% à empresa.
A situação é bizarra.
Oficialmente, o Santos recebeu do Barcelona apenas 17,1 milhões de euros (R$ 74,8 milhões, à época).
O clube catalão acabou admitindo, depois de muita pressão, que pagou 86,2 milhões de euros (R$ 364,2 milhões) pelo atacante brasileiro.
Avisou que 40 milhões de euros foram para a empresa N&N, da família de Neymar.
Sonda não perdoa o jogador.
Segundo a DIS, em 2011, poucos dias antes da final do Mundial de Clubes da Fifa, disputada entre Santos e Barcelona no Japão e vencida pelo clube espanhol por 4 a 0, Neymar recebeu um pagamento de 10 milhões de euros (R$ 32 milhões na época), assegurando a futura transferência. Delcir não tinha nem ideia do acordo.
Em 2017, fez a promessa que não desistiria do processo. E fez um desabafo muito sério.
“Ele frequentou a casa da minha família, cansamos de jantar no apartamento dele no Guarujá após os jogos. Fui traído por Neymar Jr., seu pai e sua mãe.
“A DIS foi traída por Neymar Jr. e seus pais. Houve uma fraude arquitetada entre Neymar, seus pais e o Barcelona com o uso de contratos simulados, pagamentos escondidos, advogados em viagens escondidas. Neymar e sua família receberam 40 milhões de euros escondidos para fraudar a DIS.
“É lamentável que a carreira de um jovem seja manchada por fatos criminais tão graves. Os esportistas são os exemplos das crianças, vestir uma camisa de Neymar é apoiar a corrupção.”
Aos 75 anos, Delcir cumpriu o que prometeu, levar Neymar a julgamento em Barcelona. E ele conta com o apoio do Ministério Público espanhol, que também questiona vários aspectos da venda do atacante ao clube catalão.
“E qual é a prova cabal desse pacto entre Barcelona e Santos? Descobriu-se um documento confidencial que não estava registrado perante o comitê de gestão do Santos, um documento firmado totalmente fora dos padrões normais de negociação, em que Barcelona e Santos afirmam o seguinte: se a DIS, futuramente, cobrar alguma coisa a mais em relação à transferência de Neymar para o Barcelona, Santos e Barcelona dividirão igualmente o prejuízo.
“Então, na nossa visão, esse documento que foi descoberto e está no processo é um documento que comprova a intenção de Santos e Barcelona de manter a fraude viva e enganarem a DIS”, disse o advogado do grupo, Paulo Nasser, ao jornal Estado de S. Paulo.
A previsão é que o julgamento tenha, pelo menos, oito sessões. Ele vai começar no dia 17 deste mês e pode se arrastar até o dia 31. A 24 dias da estreia do Brasil na Copa do Mundo.
Tem tudo para ser um grande espetáculo para a mídia internacional.
E pode atrapalhar a concentração do principal jogador do time de Tite para o Catar.
Até porque, se Neymar for condenado, a pena máxima seria dois anos de prisão. Assim como seu pai. Sua mãe pode ser condenada a um ano de prisão.
Embora caiba recurso, o desgaste com julgamento tão importante é incalculável.
As duas partes, por enquanto, juram que não haverá acordo.
Principalmente o bilionário grupo DIS.
A intenção de Delcir é mesmo cobrar a “traição” que sofreu.
Repete que são anos e anos lutando contra a enorme “enganação” que sofreu na vida.
Para deixar a situação mais pesada, o irmão de Delcir, Idi, morreu ontem.
Foi ele quem intermediou a compra de 40% de Neymar.
Também não se conformava com a atitude do jogador e seu pai.
Foram anos de queixas, até sua morte, em São Paulo.
Situação que mexe emocionalmente ainda mais com Delcir.
Já está decidido que, seja qual for o resultado, o assunto será proibido na Copa.
Jornalistas não terão resposta se questionarem Neymar sobre o tema…
Fonte: R7, 04/10/2022