
Amplamente usada em todo o mundo na resposta ao novo coronavírus, a azitromicina recebeu um grande balde de água fria nesta sexta-feira (04/09).
Os pacientes foram divididos aleatoriamente em dois grupos — 214 deles receberam azitromicina mais o tratamento padrão, e outros 183 receberam apenas o tratamento padrão, sem azitromicina. O tratamento padrão, feito em ambos os casos, incluía a hidroxicloroquina, pois naquela época — entre março e maio — seu uso estava sendo bastante frequente.
Quinze dias depois, a situação de saúde dos participantes foi avaliada através de uma escala com seis categorias, como ter recebido alta, mas manifestar sequela; estar internado usando ventilação mecânica; ou mesmo óbito — o que aconteceu em percentual alto, já que o grupo de pacientes acompanhados só incluía pessoas em estado grave.
Não houve diferença entre os dois grupos na melhora segundo esta escala; a mortalidade após 29 dias também foi praticamente igual (42% no grupo que recebeu azitromicina, versus 40% no grupo controle).
O tempo médio de internação foi, ainda, de 26 dias para os que receberam azitromicina e 18 no grupo que recebeu apenas o tratamento padrão. A incidência de efeitos colaterais foi semelhante nos dois grupos.
“Nosso estudo avaliou pacientes graves, em uma fase tardia da doença, mas não sabemos como a azitromicina funcionaria em pacientes ambulatoriais (mais leves)”, destaca Luciano Cesar Pontes de Azevedo, médico do Hospital Sírio-Libanês e parte da equipe que assina o artigo no Lancet.
“Gostaríamos muito que tivesse funcionado, porque é um medicamento barato, conhecido e normalmente bem tolerado na questão dos efeitos colaterais”, acrescenta, afirmando que, com os resultados, espera que ao menos o remédio deixe de ser receitado indiscriminadamente no tratamento para covid-19, o que poderia levar a falta do medicamento para quem precisa e também aumento da resistência de bactérias.
Isto porque a função original da azitromicina é de antibiótico, muito usado em infecções bacterianas nas chamadas vias aéreas superiores, como no nariz e garganta. Mas ela tem também efeito anti-inflamatório, por isso pensou-se que o medicamento pudesse ter efeito na covid-19 — em que a reação exagerada do sistema imunológico, que gera uma inflamação, tem sido apontada como um dos principais mecanismos de agravamento da nova doença.
“A azitromicina é descrita também como uma imunomoduladora. Mas, para doenças virais, sua eficácia tem poucas avaliações e não é conclusiva”, explica o médico, que tem doutorado pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-doutorado pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca).
Fonte: Voz da Bahia, (05/09/2020)