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Baixa adesão vacinal acende alerta para a volta da pólio

A baixa cobertura vacinal contra poliomielite é um dos fatores que colocam o Brasil na segunda posição no ranking de risco de reintrodução da doença, elaborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Desde 2016 que a adesão à vacina não alcança a meta de 95% e vem caindo progressivamente. O quadro não é diferente na Bahia, onde a média de 2021 foi 57,5% e os dados parciais deste ano apontam uma cobertura de 35,08%.

Em Salvador, segundo a Secretaria Municipal da Saúde (SMS), a cobertura vacinal contra pólio registrada este ano, até o momento, mostra uma pequena recuperação na adesão após o impacto da pandemia de Covid-19. A parcial de 2022 está em 63%, enquanto o número consolidado de 2021 ficou em 58%. Em 2019, a cobertura de rotina chegou a 73%, com queda para 61% em 2020, ano de início da pandemia.

Diante da confirmação recente de um caso de poliomielite no estado de Nova York (EUA), país sem registro da doença há quase uma década, a atenção sobre o risco aumentou. Uma investigação de paralisia flácida aguda, síndrome de notificação obrigatória, virou notícia como suspeita de pólio em Roraima. Embora sempre deva ser monitorada, esse tipo de paralisia também está associada a outras patologias, segundo a Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde (MS).

Vinte e quatro infecções com poliovírus selvagem foram confirmadas este ano, de acordo com a Iniciativa Global de Erradicação da Pólio, criada pela OMS em 1988, no Paquistão, Afeganistão e Moçambique, sendo que nos dois primeiros países o vírus ainda é endêmico. No Brasil, o último caso foi registrado em 1989 e o país recebeu o certificado de eliminação da doença em 1994.

Embora também possa infectar adultos, o poliovírus atinge principalmente crianças até cinco anos de idade e pode resultar em paralisia irreversível, mais comumente nas pernas, além de levar à morte ao paralisar os músculos respiratórios.

De acordo com a SMS, as sequelas estão relacionadas com a ação do vírus na medula no cérebro, e incluem ainda problemas articulares, crescimento assimétrico das pernas, atrofia muscular e paralisia dos músculos da fala e da deglutição, entre outros.

O vírus é transmitido de pessoa a pessoa por via fecal-oral ou, menos frequentemente, por água ou alimentos contaminados, e se multiplica no intestino.

De acordo com o MS, de 90% a 95% das infecções se desenvolvem de maneira assintomática, ampliando o risco de transmissão do vírus em uma população com baixa cobertura vacinal.

“A grande maioria dos municípios baianos estão com elevado risco de reintrodução da poliomielite”, a dverte a coordenadora de Imunizações da Diretoria de Vigilância Epidemiológica da Secretaria da Saúde da Bahia (Sesab), Vânia Rebouças. A informação é reforçada pelo mapa apresentado pelo MS durante a Jornada Nacional de Imunizações, na última quinta-feira, com quase todo o estado inserido nas zonas de risco alto ou muito alto, situação de 84% dos municípios brasileiros.

Vânia Rebouças explica que a cobertura de rotina, atualmente em 35,08%, é definida pelo percentual de crianças com menos de um ano que tomaram as três doses da vacina contra pólio com vírus inativado, ministrada na forma injetável.

Após o primeiro ano de vida, o Programa Nacional de Imunizações inclui duas doses de reforço, com vacina oral, mas o padrão mundial de cobertura é baseado no esquema básico, sem os reforços. A vacinação realizada durante as campanhas definidas pelo Ministério da Saúde também não entra na cobertura de rotina, gerando uma estatística separada.

Campanha

Com a prorrogação da campanha de vacinação contra pólio até 30 de setembro, a coordenadora alerta que crianças com a carteira atualizada, de um a cinco anos de idade, devem tomar uma nova dose do imunizante, pois a meta é maximizar a proteção populacional e corrigir eventuais falhas vacinais, pois pode acontecer de pontualmente a criança apresentar uma resposta menor que a esperada para uma dose da vacina.

Entre as causas para a queda da adesão à vacinação, Vânia sinaliza a “falsa segurança que as famílias sentem por não mais conviverem com doenças que já foram controladas ou eliminadas por conta do próprio êxito da vacinação”. As fake news sobre efeitos adversos graves formam mais um elemento gerador de resistência às vacinas, mas ela ressalta a raridade desse tipo de situação, sobretudo diante do risco de contrair o vírus e ficar com sequelas permanentes.

Embora a execução da vacinação fique sob responsabilidade dos municípios, a Sesab, aponta a coordenadora de Imunizações, tem uma série de iniciativas para auxiliar o aumento da cobertura, especialmente em capacitação e apoio estrutural. Além disso, há um diálogo com os gestores para a extensão dos horários de atendimento e realização de campanhas de sensibilização e combate à desinformação.

Em Salvador, a SMS iniciou, na última terça-feira, uma busca ativa nas creches e escolas municipais, disponibilizando a vacina contra pólio, e as demais do calendário, nos estabelecimentos de ensino para aqueles que ainda não tomaram a dose de campanha ou estão com alguma pendência no calendário vacinal

Fonte: Atarde, 12/09/2022

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