A campanha de ACM Neto (União Brasil) acumulou polêmicas ao longo do processo eleitoral que podem ter contribuído para a derrota para Jerônimo Rodrigues (PT) na disputa ao governo da Bahia, como a declaração racial e o “tanto faz” em relação à disputa presidencial. Mas o erro capital pode ter sido a escolha de Ana Coelho (Republicanos) como candidata a vice-governadora, sem peso político e capacidade de influenciar a busca por votos, segundo avaliação do cientista político Cláudio André.
“Acho que tem um erro capital. Ter subestimado a atração de um candidato a vice-governador, uma candidatura a vice que tivesse mais expressão eleitoral, que tivesse mais expressão eleitoral, expressão pública. É uma empresária bem-sucedida, uma pessoa respeitada no meio empresarial. No entanto, não era uma liderança política”, disse Cláudio André, nesta segunda-feira, 31, durante entrevista ao programa Isso É Bahia, da rádio A TARDE FM.
Além de rifar figuras tradicionais da cena baiana para o cargo de vice, como o ex-prefeito de Feira de Santana, Zé Ronaldo, e ter privilegiado a presença na Região Metropolitana, o discurso de aparente neutralidade em relação à eleição para presidente da República também atrapalhou o planos do ex-prefeito de Salvador para chegar ao Palácio de Ondina.
De acordo com o cientista político, teria sido mais favorável eleitoralmente para Neto ter demarcado distância da política de Jair Bolsonaro e se aproximado mais das pautas defendidas por Lula (PT), eleito novo presidente do Brasil.
“Será que essa posição antibolsonarista não traria mais efeitos para ele, na condição de dialogar melhor com o eleitor lulista? Será que esse aceno não deveria ter sido mais intenso, como a defesa de algumas políticas, como as cotas? Faltou um ACM Neto mais lulista para conseguir atrair esse eleitorado que é dominante na Bahia”.
Vitória de Lula
Cláudio André ainda fez uma análise do segundo turno da eleição presidencial. Apesar de a vitória de Lula (PT) ter sido esperada, como apontada pelas pesquisas, a diferença apertada do número de votos para Jair Bolsonaro chamou atenção.
“Havia uma expectativa, que as pesquisas já apontavam, da melhoria da avaliação do governo Bolsonaro, e essa melhoria, obviamente, que levava um potencial maior de votos, o que a gente viu, no aumento da votação de Bolsonaro, do primeiro para o segundo turno [sete milhões de votos a mais]. Então, é possível dizer que ele conseguiu aumentar a popularidade do seu governo, estabelecer as narrativas, de recuperação das políticas públicas, que ele começou a trabalhar ainda no primeiro turno”.
Para o cientista político, a eleição mostrou que o antibolsonarismo foi maior do que o antipetismo, revela um país dividido e a necessidade de Lula unificar e pacificar o Brasil.
“Vai ser necessário criar um governo de pacto nacional, de transição, para que de fato consiga ter uma pacificação nacional”, concluiu.
Atarde, 31/10/2022