
Protestos em Cuba
Milhares de cubanos saíram às ruas ontem em várias cidades do país para protestar contra o governo gritando “liberdade!”, em um dia sem precedentes que resultou em centenas de prisões e confrontos após o presidente Miguel Díaz-Canel ordenar a presença de seus apoiadores nas ruas para confrontar os manifestantes.
Este é o maior protesto contra governamental registrado em Cuba desde o chamado “Maleconazo”, quando, em agosto de 1994, em plena crise econômica do chamado “Período Especial”, centenas de pessoas saíram às ruas de Havana.
O presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado dos Estados Unidos, o democrata Bob Menéndez, descartou nesta terça-feira (13) uma intervenção militar americana em Cuba, abalada por históricos protestos contra o governo.
“Não teremos uma intervenção militar em Cuba”, disse a repórteres o veterano senador de origem cubana, atualmente o latino de cargo mais alto no Congresso dos EUA.
“Nenhum governo republicano fez isso, nem mesmo o mais anticomunista”, apontou ele. “Então vamos deixar isso de lado porque é isso que os fidelistas querem. Os que mantêm o poder em Cuba querem promover isso.” “Não haverá intervenção militar em Cuba”, insistiu. “O que haverá é apoio ao povo cubano”.
A política dos Estados Unidos é apoiar os cubanos “para que suas liberdades sejam respeitadas, para que possam decidir livremente quem os governa, para que rezem no altar que desejam, para que possam desenvolver sua oportunidade econômica pessoal sem o decisão do Estado”, disse ele.
Menendez aplaudiu a “solidariedade” do presidente americano, Joe Biden, que na segunda-feira expressou o apoio dos EUA aos manifestantes e instou o governo de Miguel Díaz-Canel a não recorrer à violência para reprimi-los.
“As pessoas estão dizendo muito claramente que querem mudanças”, afirmou o senador, lembrando que o lema do Exército cubano é “nosso poder vem do povo” e pedindo que não sejam usadas armas contra “seus concidadãos que se manifestam pacificamente”.
Menéndez também lamentou os “bloqueios da internet” em Cuba pelas autoridades, que segundo ele impedem os cubanos de se comunicarem e o mundo de saber o que está acontecendo na ilha.
“Por que um governo desativa a internet para seu povo? Somente porque tem medo de seus cidadãos”, declarou. “Temos que ajudar a criar um maior acesso tecnológico à internet em Cuba.”
Havana acusa Washington de estar por trás dos protestos sem precedentes registrados em todo o país, o que foi rejeitado pelo governo Biden e chamado de “grave erro”.
Prisão de jornalistas
O ministro de Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares, confirmou a detenção em Cuba da jornalista Camila Acosta, correspondente na ilha do jornal espanhol ABC, e cobrou a libertação da profissional.
A União Europeia (UE) pediu nesta terça-feira (13) que as autoridades cubanas a libertarem “imediatamente” os cidadãos detidos nos protestos do último domingo, bem como os jornalistas, cuja detenção considerou “inaceitável”.
“Temos conhecimento de relatos não só de detenções de pessoas de opositores e ativistas, mas também de jornalistas. Isto é absolutamente inaceitável”, disse o porta-voz da Comunidade, Peter Stano, na entrevista coletiva diária da Comissão Europeia.
O porta-voz afirmou que “o lugar dessas pessoas não é na prisão, mas no discurso público, por isso pedimos às autoridades cubanas que libertem imediatamente todos os detidos, todas as pessoas que foram detidas por suas convicções políticas ou por seu trabalho jornalístico”.
Ele acrescentou que os jornalistas “devem poder realizar seu trabalho sem qualquer limitação ou obstrução” em Cuba.
O alto representante para a Política Externa da UE, Josep Borrell, pediu ontem às autoridades cubanas que permitam manifestações pacíficas de protesto e ouçam seus participantes.
Borrell discutiu o assunto com os ministros das Relações Exteriores dos Vinte e sete durante um Conselho em Bruxelas.
Questionado sobre se a UE mudará sua política em relação a Cuba em função da situação, Stano lembrou que “as posições da UE são acordadas por unanimidade”.
Fonte: R7, 13/07/2021