
Em seu discurso durante a abertura da Assembleia Geral da ONU, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) decepcionou aqueles que esperavam um discurso mais moderado ao fazer um relato repleto de distorções sobre a situação do Brasil na pandemia.
Em tom semelhante ao adotado em 2019, quando saiu ao ataque de adversários políticos e de países que criticavam sua gestão, Bolsonaro não atendeu aos apelos da ala moderada do governo para que buscasse um discurso mais diplomático e conciliador e pareceu fazer um aceno para a sua base eleitoral, de olho em 2022.
Nos momentos iniciais, Bolsonaro voltou a atacar a imprensa, que de acordo com ele “pinta um governo que não existe” e afirmou que o Brasil esteve “à beira do socialismo” até sua eleição.
“Venho aqui mostrar o Brasil diferente daquilo publicado em jornais ou visto em televisão. O Brasil mudou e muito depois que assumimos o governo em janeiro de 2019. O Brasil tem um presidente que acredita em Deus, respeita a Constituição, valoriza a família e deve lealdade a seu povo. Isso é muito, se levarmos em conta que estávamos à beira do socialismo”, afirmou.
Em seguida, Bolsonaro afirmou não haver escândalos de corrupção em seu governo, embora existam diversas investigações sobre o tema envolvendo sua família e aliados, incluindo o escândalo da compra da vacina indiana Covaxin, e que as manifestações do 7 de setembro a seu favor teriam sido as maiores da história do país.
Bolsonaro disse ainda que o Brasil teria pago um auxílio emergencial de US$800, R$ 4.260 na cotação atual. Porém, diferentemente do que deixou a entender, esse foi o valor que algumas famílias recebeu parcelado ao longo dos meses e não mensalmente.
Cloroquina e vacinas
No ponto mais controverso do discurso, Bolsonaro voltou a fazer defesa do tratamento precoce contra a Covid, comprovadamente ineficaz no combate à doença, chegando a afirmar que teria feito uso da técnica e que o tempo irá dizer quem estava correto.
“Desde o início da pandemia, apoiamos a autonomia do médico na busca do tratamento precoce, seguindo recomendação do nosso Conselho Federal de Medicina. Eu mesmo fui um desses que fez tratamento inicial. Respeitamos a relação médico-paciente na decisão da medicação a ser utilizada e no seu uso ‘off-label’ [fora do que prevê a bula]. Não entendemos porque muitos países, juntamente com grande parte da mídia, se colocaram contra o tratamento inicial. A história e a ciência saberão responsabilizar a todos”, disse Bolsonaro.
O presidente criticou ainda a adoção do passaporte sanitário, que exige a apresentação de comprovante de imunização para acessar lugares e serviços públicos e que tem sido adotado em diversas partes do mundo.
“Até novembro, todos que escolheram ser vacinados no Brasil, serão atendidos. Apoiamos a vacinação, contudo o nosso governo tem se posicionado contrário ao passaporte sanitário ou a qualquer obrigação relacionada a vacina”, disse Bolsonaro.
Essa é a terceira vez que Bolsonaro discursa na ONU como presidente do Brasil, já que o representante do país é encarregado de de abrir oficialmente a fala dos presidentes mundiais desde 1947.
Amazônia
Bolsonaro falou ainda sobre a questão ambiental da Amazônia ao afirmar que o Brasil tem “grandes desafios ambientais” por ser um país com “dimensões continentais”.
De acordo com ele, 84% da floresta amazônica estaria “intacta” e que no último mês houve uma queda da 32% no desmatamento da região em comparação ao mesmo período de 2020.
“Antecipamos, de 2060 para 2050, o objetivo de alcançar a neutralidade climática. Os recursos humanos e financeiros, destinados ao fortalecimento dos órgãos ambientais, foram dobrados, com vistas a zerar o desmatamento ilegal. E os resultados desta importante ação já começaram a aparecer. Qual país do mundo tem uma política de preservação ambiental como a nossa? Os senhores estão convidados a visitar a nossa Amazônia!”, disse.
Bolsonaro falou ainda da questão indígena e fez um aceno à questão da derrubada do marco temporal na demarcação de terras indígenas no país.
“14% do território nacional, ou seja, mais de 110 milhões de hectares, uma área equivalente a Alemanha e França juntas, é destinada às reservas indígenas. Nessas regiões, 600.000 índios vivem em liberdade e cada vez mais desejam utilizar suas terras para a agricultura e outras atividades”.
Fonte: Atarde, 21/09/2021