O Campo Grande não ficou cheio apenas no lado onde ocorrem as comemorações cívicas e os desfiles do 7 de setembro. Desta vez, as ruas que ficam próximas ao Teatro Castro Alves também ficaram lotadas. Isso porque, desde o início da manhã, enfermeiros, técnicos de enfermagem e auxiliares tomaram a região em protesto contra a decisão do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), que suspendeu o piso salarial aprovado pelo congresso para a categoria.
Sem a suspensão, os enfermeiros teriam remuneração fixa em R$ 4.750. Os récnicos em enfermagem receberiam 70% desse valor e auxiliares de enfermagem e parteiros ganhariam 50%. O piso é uma demanda antiga da categoria que, além de protestar, promete paralisação caso ele continue suspenso.
Uma das líderes da manifestação, a técnica em enfermagem Cristiane Conceição, 40 anos, afirma que a classe têm adesão caso precise promover paralisações. “No próximo dia 9 de setembro vamos fazer uma assembleia, e dela vamos organizar a paralisação. Estamos permanecendo no trabalho pela vida ser humano, que precisa da gente. Porém, nós também precisamos ser acolhidos, estamos cansados e queremos uma valorização”, reclama ela, que trabalha há 16 anos na área.
Adailton dos Santos, 47, também é técnico em enfermagem e acompanha o discurso da colega ao falar da situação da categoria . “É humilhante um profissional tão importante, que está na linha de frente no trabalho da saúde, precisar ficar exausto e cumprir duas ou três escalas para conseguir sobreviver porque o pagamento está muito abaixo do que é digno. Hoje, em média, técnico recebe R$ 1.100 e tem gente que precisa até pegar menos que isso para trabalhar”, fala ele.
Para os enfermeiros, a média de remuneração está em R$ 2.200 de acordo com alguns manifestantes. Um valor que para os profissionais está aquém do devido. “A remuneração atual de dois salários mínimos é vergonhosa para uma categoria tão importante, estruturante no serviços de saúde e para o Sistema Único de Saúde. […] Esse piso que foi suspenso a gente vê como uma medida de reparação social para uma profissão que por muito tempo foi escravizada. E queremos que seja implementado”, reivindica.
Além da concentração, assim como o Grito dos Excluídos, os profissionais da enfermagem vão seguir em protesto pela Avenida Sete de Setembro após o término dos desfiles cívicos e oficiais.
Decisão suspende piso
O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu neste domingo (4) o piso salarial da enfermagem.
A decisão vai valer até que estados, municípios, órgãos do governo federal, conselhos e entidades do setor informem o impacto financeiro para os atendimentos e riscos de demissões por conta da implementação do piso – o prazo é de 60 dias.
O ministro tomou a decisão individualmente, mas ela será será levada para análise dos outros colegas no plenário virtual. A data está marcada para sexta (9).
Barroso é relator de uma ação da Confederação Nacional de Saúde, Hospitais e Estabelecimentos de Serviços que argumenta que o piso da enfermagem é “insustentável” e pode colapsar o setor.
O ministro avaliou que há risco de piora na prestação do serviços de saúde, especialmente no caso de hospitais públicos e Santas Casas, com a implementação do piso. As instituições indicam sinal de demissão em massa e redução de leitos ofertados.
O piso seria pago pela primeira vez nesta segunda, no valor de R$ 4.750 tanto para setor público quanto privado. O valor também é usado de referência para cálculo de salário para técnicos de enfermagem (70%), auxiliares (50%) e parteiras (50%).
Fonte: Correio/BA, 07/09/2022