
A Polícia Federal se valeu de um mapa do dinheiro elaborado pelos próprios fraudadores do INSS. Trata-se de uma planilha encontrada, este ano, com operadores da Conafer (Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais), principal alvo da operação de hoje.
A planilha apreendida no núcleo financeiro da confederação registrava repasses mensais destinados a integrantes da antiga cúpula do INSS, ocultos sob apelidos como “Italiano”, “Herói V” e “Herói A”.
Segundo os investigadores, os dados permitiram dissecar o coração financeiro do esquema porque reconstituíram rotas de pagamento que permitiram à organização criminosa drenar mais de R$ 640 milhões.
Segundo os autos, a fraude teria começado em 2017, quando a Conafer fechou o primeiro convênio com a autarquia.
Na interpretação da PF, a planilha não era apenas um registro contábil, mas refletia o organograma cifrado. Cada apelido carregava a função de quem, com poder de decisão, ajudava, dentro do INSS, a fraude seguir em frente.
No topo da lista está o “Italiano”, codinome atribuído a Alessandro Antônio Stefanutto, que ocupou duas posições estratégicas: primeiro como procurador-chefe e depois como presidente do INSS.
Segundo o rastreamento de fluxos bancários feito pela PF, ele recebia R$ 250 mil mensais, pagos por empresas de fachada ligadas ao operador financeiro Cicero Marcelino. Antes de ser promovido a presidente da autarquia no governo Lula, a mesada de Stefanutto variava entre R$ 50 mil e 100 mil por mês.
A PF afirma que Stefanutto foi responsável por dar sustentação jurídica à celebração do convênio com a Conafer e, mais tarde, por blindar administrativamente o esquema mesmo após alertas internos sobre irregularidades e falsificações.
Em seguida aparece o “Herói V”, identificado como Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho, ex-procurador-geral do INSS.
O mapa de repasses revela que ele recebeu R$ 6,5 milhões, entre 2022 e 2024. Em troca, segundo os investigadores, Virgílio liberava lotes de pagamentos e emitia despachos que destravaram transferências à Conafer, segundo a polícia.
A terceira posição é ocupada pelo “Herói A”, apelido usado para designar André Paulo Félix Fidélis, ex-diretor de Benefícios do INSS.
De acordo com a análise financeira da PF, Fidélis recebeu R$ 3,4 milhões. As mensagens interceptadas indicam encontros discretos, fotos enviadas como confirmação de entrega e pagamentos repassados por empresas controladas pelo núcleo operacional.
A função atribuída a ele era garantir que o acordo de cooperação técnica com a Conafer não sofresse interrupções, mesmo diante do crescimento de denúncias e das inconsistências registradas nas bases de dados do INSS.
O UOL ainda não conseguiu contato com as defesas da Conafer, do ex-presidente do INSS Alessandro Antonio Stefanutto, do ex-procurador-geral do INSS Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho, do ex-diretor de Benefícios André Paulo Félix Fidélis.
Fonte: Graciliano Rocha e Daniela Lima Colunista do UOL
13/11/2025 19h10



