
O acampamento, instalado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que reuniu caminhoneiros autônomos e apoiadores de Jair Bolsonaro foi desfeito na sexta-feira (10/09), pela Secretaria de Segurança do DF. A ocupação acontecia desde a véspera do feriado, quando grupos furaram o bloqueio da Polícia Militar do Distrito Federal e se recusaram a sair. Sem números oficiais sobre a quantidade de pessoas que se estabeleceram no local, o acampamento tinha uma particularidade em sua decoração: o predomínio do verde e do amarelo.
Em apuração feita pelo Correio, a maior parte da alimentação do acampamento veio de Unaí, em Minas Gerais. O Sindicato dos Produtores Rurais de Unaí apontou o nome de Elias Andrade de Oliveira, o Capitão Elias, ex-candidato a deputado federal e pré-candidato à prefeitura de Unaí, ambos pelo Partido Social Liberal (PSL), como possível financiador. O capitão concedeu entrevistas em rádios da cidade pedindo apoio da Polícia Militar e da comunidade à paralisação. Quando perguntado sobre tais afirmações, Elias afirmou que “vários empresários e comerciantes contribuíram para ajudar as pessoas a se alimentarem no local (acampamento em Brasília). Goiás e Mato Grosso participaram com a carne, e Unaí doou só os grãos”, explicou o capitão. No entanto, ele não forneceu os nomes das instituições. “É muita gente, e eu possuo a lista, mas não está comigo.”
Havia uma organização dentro do acampamento. As refeições eram servidas em pratos de marmita, no estilo self-service. Arroz, feijão, milho, batata e carne integravam o cardápio do último dia. A organização ficava em um ponto específico, atrás de um carro de boi.
“Divisão de classes”
Era perceptível uma “divisão de classes” entre os manifestantes, pessoas com aspecto mais simples trabalhavam, cozinhavam, descarregavam ou carregavam caminhões, estavam sempre em atividade. Essa ala, assim como o povo do campo e os caminhoneiros interagiam somente entre si. Enquanto isso, outros grupos pareciam estar em uma colônia de férias. Em clima de despedida, essas pessoas queriam aproveitar enquanto podiam, bebiam ao som de sertanejo no violão, acompanhado do coro dos companheiros.
Nem todos que estavam no acampamento foram realmente manifestar. Um caminhoneiro autônomo, que não quis se identificar, trabalhava para uma transportadora. Ele chegou para levar os mantimentos de Unaí: em torno de quatro toneladas de arroz, feijão, batata, açúcar e sal. Segundo ele, a carga foi financiada por uma vaquinha realizada por produtores rurais de Unaí. Além dele, pessoas com a camisa da Aliança pelo Brasil (ALB) também tinham outro intuito: colher assinaturas suficientes para fundar seu partido. A informação é de um post no Twitter, publicado na véspera do Dia da Independência.
Outro grupo que marcou presença foram manifestantes adeptos ao movimento de extrema-direita, “Ucraniza Brasil”. Envolvidos em bandeiras de cores preta e vermelha, com um tridente no centro, são inspirados no grupo paramilitar de extrema direita Pravyi Sektor (Setor Direito), que se tornou partido político em 2013, na Ucrânia. É um movimento que se tornou moda entre os adeptos a Bolsonaro.
A nota oficial da Secretaria do Estado de Segurança Pública do DF (SESP-DF) informou que até o fim da sexta-feira a área da Esplanada dos Ministérios estaria liberada. Sem fazer uso da força, os policiais fizeram o monitoramento do local até que o último manifestante se retirasse.
Apesar disso, algumas pessoas reclamavam que, desde quando instalaram o acampamento, no dia 6, policiais militares do DF teriam agido com truculência. “A polícia está todo dia nos incomodando. Já chegaram a jogar gás de pimenta em famílias no meio da madrugada. Somos civilizados, então, estamos saindo na paz, mas não teve papo nenhum, só pediram para sairmos hoje (sexta) de manhã”, disse uma mulher que manifestava, mas não quis ser identificada.
No momento da desocupação, o Correio presenciou um homem sendo detido por desacato, mas liberado em seguida. Os manifestantes insistiram que tinham autorização para ficar no local, o que não foi confirmado pela SESP-DF. “O pessoal da organização nos informou que temos autorização para ficar aqui até o dia 20. Essa é uma ocupação legal, é nossa terra, do povo brasileiro. Exigimos um mandado de desocupação da polícia, mas não teve papo, só chegaram hoje (sexta) de manhã e pediram para nós sairmos”, disse outro manifestante.
Fonte: Correio Braziliense, 12/09/2021