BAHIADESTAQUESEGURANÇA

Maconha, mais uma ignorância das que ‘extravancam’ o progresso, diz Ricardo Mandarino

Ricardo Mandarino, secretário de Segurança Pública da Bahia, apanhou pesado, e de todos os lados, esta semana por ter dito que tem amigos que fumam maconha.

Coitado de Mandarino. O único erro que tem na fala dele é o lugar, falou no país errado. Estivesse ele nos EUA ou na Europa, estaria falando algo tão simples como tomar café. Na Espanha, por exemplo, ainda teria requintes como, ao invés de fumar, seria degustar um tablet. Ou chupar uma pastilha, ou mesmo degustar um brizadeiro, o brigadeiro emaconhado.

O rol dos disparates que envolvem o tema, no Brasil, produz a cereja do bolo. Aqui, a canabis nasce em qualquer fundo de quintal, mas o plantio é proibido e o país só autorizou a compra do óleo a partir de 2015. O resultado é desastroso: quem tem dinheiro compra nas farmácias, quem não tem, dança, como acontece com o feijão e o arroz, ressalte-se.

Racismo —Quem expõe isso com absoluta clareza é o contador Luiz Chilazi, 41 anos. Oito anos atrás ele viu de uma só paulada o pai, a mãe e o irmão. Avaliou a fundo todas as possibilidades, chegou na cannabis, ou CBD, a maconha.

— Minha mãe morreu, na minha opinião, vítima da quimioterapia. Meu pai e meu irmão estão vivos.

Segundo ele, graças a tratamentos com maconha. Luis é um dos poucos na Bahia que importa, com autorização da Anvisa, para abastecer clínicas e farmácias, diz que o Brasil paga caro ‘em dinheiro e em vidas’ por conta da ignorância sobre o assunto.

— Triste é constatar que nisso aí há muito de racismo. Isso fica bem claro no livro “Fumo de Negro”: A criminalização da maconha no pós-abolição. Fumo de negro era como chamavam a maconha. Antes, quando os negros eram apanhados fumando, pegavam três dias de cadeia; os brancos que vendiam só pagavam multa. O preconceito de hoje integra o mix do racismo estrutural que ainda temos.

Sem química —Luiz ressalta que os produtos da maconha usados na medicina não são oficialmente carimbados como medicamentos. Não é droga, é apenas um extrato de uma planta.

Moral da história: Mandarino está certo. Maconha não mata, muito pelo contrário. O que mata é a guerra no entorno dela vitaminada pela ignorância.

Inimigos cordiais

Essa quem conta é o jornalista Demóstenes Teixeira, ex-editor chefe do jornal Correio, pertencente a ACM, de quem se tornou também amigo.

Deputado federal e comunista top (personagem central do livro Adorável Comunista, de Antonio Risério), Fernando Santana, o filho de Irará que tanto orgulhou os baianos do seu tempo pelas posições firmes sempre extenadas com contagiante leveza, estava no Aeroporto de Salvador absorto na leitura de um jornal aguardando embarque, com os pés fora dos sapatos, um dedão coçando o outro por baixo da meia. Antonio Carlos Magalhães, então ministro das Comunicações (Governo Sarney), com quem se dava bem, ou era ‘um inimigo cordial’, desembarcando, se aproximou, o deputado lá lendo o jornal, se viu fingiu que não viu,

ACM deu uma bicuda no sapato dele, que saiu rodopiando pelo piso liso do aeroporto.

E Fernando, sem tirar os olhos do jornal:

– Largue meu sapato aí ministro, que o senhor não é de afanar coisa pouca.

Fonte: Atarde, 22/05/2022

Mostrar mais

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

3 + 9 =

Botão Voltar ao topo