
Se alguém esperava fila e muvuca nas agências bancárias de Salvador para o programa de negociação de dívidas Desenrola Brasil, se surpreendeu. No centro, no Subúrbio Ferroviário e em outras regiões da cidade, os bancos amanheceram vazios nesta sexta-feira (21). Até no caso da Caixa Econômica Federal, que abriu às 9h – uma hora antes do normal – só para o Desenrola, pouca gente apareceu para ser atendida.
Gerson Oliveira, 53 anos, chegou às 8h, já com medo de ter fila. No entanto, achou só duas pessoas com a mesma missão em uma agência localizada na Avenida Sete. “Saí de casa atrasado porque queria chegar aqui às 7h30, mas percebi que nem precisava dessa agonia toda. Vou ficar só esperando até às 9h, entrar e ver como eles podem resolver a minha vida lá dentro”, afirma ele, que tem uma dívida de quase R$ 5 mil que parou de pagar há um ano.
De acordo com o planejador financeiro Raphael Carneiro, Gerson está apto a participar do programa. Isso porque só pode negociar quem ficou inadimplente de 1° de janeiro de 2019 até 31 de dezembro de 2022. Os que tem outras dívidas em aberto, seja por empréstimo ou pagamentos, e seguem pagando de maneira noramal, não tem como renegociar as parcelas através do Desenrola.
Mesmo com a limitação, o programa deve atender um número alto de baianos. De acordo com o Serasa Experian, feito em dezembro do ano passado, 4,4 milhões de pessoas no estado iniciaram o ano com dívidas, sendo 1,2 milhão só de Salvador. Em termos gerais na Bahia, o acumulado devido está na casa dos R$ 15 bilhões.
Gerson, porém, não sabe dizer quanto desse valor vai sair do bolso dele, já que os juros correram enquanto estava sem pagar. “Eu devia ao banco quase R$ 5 mil no começo de 2022 e não tive condições de arcar com isso. Agora, não faço ideia do que vai ter aí, só conversando com o gerente para saber mesmo o que eu preciso pagar e como eles podem me ajudar na divisão das parcelas”, fala.
Oportunidade valiosa
Mesmo sem saber o quanto devem, os baianos devem procurar saber se podem renegociar. O economista Edísio Freire avalia que o programa beneficia quem não consegue honrar o compromisso por não ter renda o suficiente e é uma oportunidade interessante para esse público. “O Desenrola faz uma espécie de leilão com os bancos e faz com que as instituições pratiquem taxas menores de juros na renegociação, esse é o sentido do programa”, explica Freire.
Nesse primeiro momento, o programa dá a oportunidade de renegociação para pessoas com renda mensal de até R$ 20 mil. No entanto, as instituições financeiras só terão de ‘limpar o nome’ de pessoas que estejam com débitos abaixo dos R$ 100. Estão no programa, além da Caixa, o Banco do Brasil, Bradesco, Itaú, Santander e até os digitais como Nubank, C6 Bank e Inter.
Raphael Carneiro pontua, porém, que as práticas de negociação não são coletivas e cada banco vai dar ofertas diferentes aos endividados. “Agente ainda não sabe quais serão as taxas de juros gerais em cada instituição, mas qualquer possibilidade de se renegociar uma dívida deve ser olhada com bastante atenção”, orienta o planejador financeiro.
Edisio alerta que fazer o acordo sem pensar pode fazer com que o cidadão enxugue gelo nas contas. “Você resolve um problema agora, mas abre outro diferente mais pra frente. E, nesse caso, não vai ter outra oportunidade de negociar porque não é possível fazer o mesmo com uma dívida já renegociada”, completa ele.
Primeira fase
Na segunda-feira (17), começou a primeira fase do Desenrola, que permite a negociação de dívidas bancárias. Nesta etapa, ocorrem duas ações paralelas. As pessoas com débitos de até R$ 100 vencidos até 31 de dezembro do ano passado têm o nome limpo. A dívida não é perdoada, mas o cliente será retirado do cadastro negativo.
A segunda ação beneficia pessoas físicas que ganham até R$ 20 mil e dívidas em banco sem limite de valor. Para essa categoria, os bancos estão oferecendo renegociação direta com os clientes em troca da antecipação de créditos tributários (antecipação de descontos em tributos). O governo ofereceu R$ 50 bilhões em créditos antecipados em proporção aos descontos concedidos. Cada R$ 1 de desconto na dívida dá direito a R$ 1 em crédito tributário para a instituição financeira.
Correio/BA, 21/07/2023