Uma barragem transbordou na cidade de Wenceslau Guimarães, no sul da Bahia, na noite de segunda-feira (6). Por volta das 19h, a água da chuva encheu uma represa localizada em uma fazenda no município e alagou o centro da cidade. O prefeito de Wenceslau Guimarães, Carlos Liotério, disse que decretou estado de emergência em razão das fortes chuvas.
“Criou uma avalanche que afetou mais de 30 famílias. O volume que tinha na barragem era muito grande”, narra.
Nesta terça-feira (6), a água do alagamento escoou e a cidade já não está em situação crítica. Porém, o transbordamento deixou rastros. Foram 30 casas afetadas – sendo duas totalmente destruídas -, 25 famílias desalojadas e três desabrigadas. Moradores que perderam as residências se abrigam em casas de amigos e vizinhos. A prefeitura ajudará os residentes que perderam tudo com aluguel social. Não há registro de feridos ou óbitos.
“Lamentamos o ocorrido, abraçamos as família que foram afetadas diretamente, prestamos atendimento emergencial com alimentação, moradia, alojamento. Agora é outro processo com Defesa Civil para ver como devolver o mínimo para essas pessoas que perderam patrimônio”, afirma o prefeito.
A reserva fica às margens da BR 101 e moradores contam que a pista estava com poças antes mesmo do transbordamento acontecer. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) esteve no local nesta terça de manhã e afirmou não ter interdição.
A Defesa Civil do município informou que não houve rompimento da barragem e confirmou transbordamento. Autoridades aguardam manutenção do controle da situação para intervir no local.
Alguns moradores conseguiram recuperar móveis, outros perderam tudo.
Barragem de açude
O gestor municipal explica que a represa pertence a um morador de Gandu, cidade vizinha de Wenceslau Guimarães, e já entrou em contato com o proprietário. No entanto, ele esclarece que a represa não foi construída. “Esse local não é de fato uma represa, se tornou naturalmente uma barragem. Não foi ele [proprietário] que quis construir. Anos atrás a água começou a acumular e foi formando a barragem”, conta.
A reportagem do CORREIO solicitou ao Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), órgão responsável pela fiscalização da segurança das barragens, o número de barragens em alerta no estado. O diretor de recursos hídricos e monitoramento ambiental do Inema, Eduardo Topázio, afirma que não há ameaça de transbordamento ou rompimento de barragens na Bahia. “Barragens são projetadas para suportar esse tipo de cheia sem causar dano”.
Para o engenheiro civil e mestre em geotecnia pela Universidade de São Paulo (USP), Denis Suzuki, hoje é mais difícil que uma barragem rompa. Ele justifica que depois das tragédias de Mariana (2015) e Brumadinho (2019), reservas que romperam em Minas Gerais, a legislação que controla a construção passou a exigir instrumentos de monitoramento atualizados. “Mas no Brasil há milhares de barragens e é difícil falar se todos estão seguindo as leis vigentes”, pondera.
Ele ainda explica que as diferenças entre “barragens naturais”, como a de Wenceslau, para as convencionais, estão na infraestrutura e nos riscos. “Uma barragem construída sem qualquer critério oferece risco muito maior porque foi executada sem qualquer controle tecnológico, dimensionamento. Qualquer chuva acima do normal já pode causar um dano”, prevê.
Correio/BA, 06/12/2022