
A empresária Wilma Petrillo — viúva da cantora baiana Gal Costa, que morreu aos 77 anos de idade em novembro de 2022 — está sendo acusada de aplicar golpes em empresários, produtores culturais e outras pessoas, além de assédio moral contra ex-funcionários da artista.
Os casos foram revelados na última edição da revista Piauí, quando 13 pessoas diferentes fizeram acusações contra Wilma Petrillo, incluindo seis ex-funcionários, seis amigos e um parente de Gal Costa.
O primeiro caso é o do médico Bruno Prado, que era próximo de Gal e de Wilma, até que a empresária o pediu até R$ 15 mil emprestado para a realização de uma cirurgia ocular. O pagamento, entretanto, não foi realizado no prazo combinado.
Bruno Prado, então, decidiu contar a história para Gal, que garantiu que o dinheiro seria pago. Como retaliação, Wilma cumpriu o prometido e revelou ao pai do médico a orientação sexual do filho. O tiro, porém, saiu pela culatra, já que os familiares de Bruno acolheram naturalmente diante da notícia.
Na sequência, Wilma teria começado a ameaçar Bruno de agressão, o que resultou em um boletim de ocorrência junto à Polícia Civil. Só depois é que a empresária teria feito um cheque com o valor acordado no empréstimo. Após o pagamento, o médico decidiu nunca mais falar com Gal e a esposa.
A atriz Sônia Braga também teria sido vítima de um golpe aplicado por Wilma, mas ela não respondeu até a publicação da reportagem.
O produtor Ricardo Frugoli afirma que os tempos de trabalho junto a Wilma são de más lembranças. De acordo com ele, Gal Costa teria perdido oportunidades de shows no Brasil e na Europa por causa do comportamento da mulher da artista.
Entre as intrigas supostamente promovidas por Wilma, estariam acusações infundadas de furto e ex-funcionários com episódios de depressão causados por humilhações nos bastidores.
Ricardo, então, um dia, abriu o jogo com Gal sobre o que acontecia. Porém, furiosa ao supor que poderia estar sendo roubada, ela preferiu nunca mais tocar no assunto. O produtor, mesmo diante da situação, diz que seguiu trabalhando na equipe por consideração à cantora.
Tempos depois, Wilma passou a ameaçá-lo e, devido a isso, ele resolveu registrar um boletim de ocorrência. Passados quatro dias da queixa, ele acabou demitido.
Buraco negro
De acordo com as 13 fontes que falaram sobre a empresária Wilma Petrillo, as finanças de Gal foram minadas no período em que as duas estiveram casadas. As dívidas iam de restaurantes, a mensalidades da escola de Gabriel, pagamentos de empregados e até a Receita Federal dos Estados Unidos.
Ao comentar com Gal o comentário de Wilma, a cantora negou. “Isso é mentira”. Segundo relato da cantora a amigos, a empresária não retornava aos EUA por medo de ser presa, já que teria vendido um imóvel em Nova York e não pagou os impostos devidos.
Um ex-funcionário que trabalhou com Gal até sua morte diz que a conta da cantora era “um buraco negro”
Relação abusiva
“O dinheiro entra e some, as dívidas não param de chegar. Que tipo de empresária é você?”, questionou Gal. “Você é uma velha, as pessoas não querem mais te contratar”, rebateu Wilma.
A médium Halu Gamashi, que também era próxima de Gal, lembra que, por causa do ciúmes de Wilma, passou a se encontrar com a cantora em sigilo. Ela relembra que, em 1995, ouviu a empresária perguntar se a cantora não sentia vergonha por estar tão gorda.
“Você está pensando que é quem, Nana Caymmi?”, teria dito Wilma.
Prejuízos profissionais
O produtor Rodrigo Bruggermann, responsável pela organização dos shows “Recanto” nas cidades do sul do Brasil, categoriza Wilma como “a pior pessoa” com quem ele lidou no meio artístico. “Além de ser grosseira, ela fazia mudanças de última hora e aplicava taxas surpresa”, disse.
Ele conta ainda que Gal não fazia participação especial nos shows de ninguém, ao contrário de outros cantores da MPB, porque Wilma não teria permitido. “Provavelmente, nem deixava os convites chegarem até ela”, sinalizou.
A empresária, porém, teria dito que só daria continuidade se recebesse de imediato 80% do valor, ou seja, R$ 560 mil. Ele aceitou e os primeiros shows aconteceram só em 2015, aos trancos e barrancos. “Wilma sempre dizia que a agenda da Gal estava apertada”, relembra ele.
O problema veio na hora de gravar o disco, já que Wilma parou de responder às mensagens dele e, quando finalmente conseguiu, ela alegou que Gal não tinha mais tempo para continuar no projeto.
A gravação foi marcada para 2017 mas, na data combinada, ninguém apareceu. Conclusão: a Natura não pagou os R$ 140 mil restantes e Pessoa estima que ficou com um prejuízo de mais de R$ 1 milhão.
Guto Burgos, irmão de Gal, tornou-se, em 1993, representação da família para a cantora, mas não participou dos últimos anos da irmã. Ele ainda diz que foi afastado da irmã por Wilma em 1997. “Por favor, eu não quero mais falar disso. É um assunto que me dói muito”, disse ele.
Burgos conta ainda que Gal teve oito salas comerciais no Rio de Janeiro, que lhe rendiam aluguéis, uma cobertura e um apartamento na Praia Guinle, um condomínio de luxo na Praia de São Conrado, no Rio de Janeiro.
“Também tinha imóveis em Salvador, Trancoso e Nova York. Como dói saber que ela morreu sem nada disso. Parece que todo o trabalho dela foi em vão”, lamenta ele.
Wilma, porém, decidiu que o corpo ficaria em São Paulo, no mausoléu da família dela, no Cemitério da Consolação.
Atarde, 06/07/2023