Carreata fúnebre vira opção para despedida de vítimas do Corona Vírus, em Valença-BA

Quando uma pessoa morria no interior baiano, o procedimento fúnebre era certo: velório durante a madrugada, caixão aberto e grandes procissões para levar o falecido até o cemitério. Para evitar aglomerações, a pandemia do novo coronavírus interrompeu essa tradição. Um nova modalidade, porém, surgiu em substituição à antiga tradição da despedida final nas cidades pequenas: o enterro em carreata e não só para as vítimas de covid.
“É um modo de amenizar a dor da família. Nós nos sentimos emocionados em proporcionar isso”, descreveu José Silva, dono da funerária Pax Monte Sinai, que realizou nos últimos dias dois enterros em carreata na cidade de Uauá. O primeiro foi no dia 17 de julho, da aposentada Maria Perpétua Cardoso, 85, conhecida pelos amigos como Perpetona. O segundo foi no último sábado, do comerciante José Rodrigues de Santana, 71.
O por do sol e as luzes do faróis dos carros se misturaram no cortejo fúnebre em Uauá (Foto: arquivo pessoal)
Os dois casos foram resultados da infecção causada pelo novo coronavírus. Segundo o dono da funerária, a carreata durou 30 minutos e percorreu uma distância de cerca de um quilômetro pelas ruas da cidade. Nesse cortejo fúnebre, os motoristas andam com velocidade reduzida e luzes de alertas ligados, em tom solene e respeitoso. No cemitério, somente os agentes funerários e uma quantidade limitada da família pôde entrar, em obediência ao Plano de Manejo de Óbitos da Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab). Do lado de fora, dentro do carro, as pessoas buzinavam, fazendo referência à tradição de bater palmas para o falecido.
“Nós tivemos essa ideia, pois minha tia gostava de gente, gostava de multidão. Quando o marido dela faleceu em março, por outros motivos de saúde, ela ficou feliz quando viu tanta gente no velório”, disse a sobrinha de Perpetona, Auricélia Cadidé, 47. Para ela, essa última homenagem ajudou a aliviar a dor da perda: “Já que não pode velar e ver o corpo, acompanhamos de carro. É triste não poder fazer nada, nem dar adeus”.
Fonte: Correio*, (01/08/2020).