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MPF denuncia desembargadora do TJ-BA e mais 3 por corrupção e lavagem de dinheiro na Operação Faroeste

O Ministério Público Federal (MPF) ofereceu ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) mais uma denúncia no âmbito da Operação Faroeste. Desta vez, estão entre os denunciados a desembargadora do Tribunal de Justiça da Bahia (TJBA) Ilona Reis, e os advogados Marcelo Junqueira Ayres Filho, Fabrício Bôer da Veiga e Júlio César Cavalcanti Ferreira. Eles são acusados da prática dos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e de pertinência em organização criminosa.

De acordo com nota divulgada pelo MPF na noite desta quarta-feira (30), os quatro pertenciam a um grupo criminoso cuja dinâmica era organizada em quatro núcleos: judicial, causídico, econômico e de defesa social. Este último foi criado depois, supostamente, para blindar os demais núcleos.

“Os elementos probatórios reunidos durante as investigações revelam que ao menos quatro pessoas se associaram, com estabilidade e permanência entre setembro de 2019 e dezembro de 2020, com o objetivo de obter vantagens, sobretudo econômicas, mediante a prática de crimes de corrupção e lavagem de dinheiro”, ressalta a denúncia do MPF, enviada nesta quarta-feira (30) ao STJ, e assinada pela subprocuradora-geral da República Lindôra Araújo.

Os valores envolvidos na trama objeto da denúncia são estimados em R$ 800 mil, com pagamentos da ordem de R$ 300 mil em dinheiro com o objetivo de não deixar pistas da vinculação criminosa entre os integrantes da orcrim. Ilona Reis teve prisão temporária decretada em 14 de dezembro, e está presa preventivamente desde o último dia 19.

De acordo com a denúncia, “a organização criminosa montada pela desembargadora Ilona Reis, segundo relato e provas apresentadas por um colaborador, teve os advogados Marcelo Junqueira e Fabrício Bôer como principais operadores, cabendo ao colaborador pagar e confeccionar as decisões, dentro dos parâmetros ilícitos acordados entre os integrantes do grupo”. Segundo o MPF, “todos estavam ajustados para atuar em um organismo criminoso, e dispostos a fazer circular divisas ilícitas entre eles”.

“Em linhas gerais, a desembargadora Ilona Reis teve atuação central na organização criminosa em questão, exercendo o comando do grupo. Não obstante, a subsistência do grupo criminoso dependia da articulação e operacionalização dos ilícitos, a qual se dava, majoritariamente, pelo intermediador Júlio César”, diz um dos trechos da denúncia. Já o advogado Marcelo Junqueira tornou-se o operador da magistrada, agindo sob as ordens e atendendo os interesses dela. Foi apurado que ele negociava diretamente as decisões judiciais e atuava na operacionalização do recebimento dos valores em espécie pelo grupo criminoso, e que mantinha interlocução com Júlio César e Ilona Reis. Júlio era o responsável por redigir decisões judiciais, assinadas por Ilona, para beneficiar outro braço da organização criminosa que agia no Oeste baiano, liderado por Adailton Maturino.

Além de operador da orcrim, Fabrício Bôer teve atuação decisiva na negociação de pronunciamento judicial e na entrega de propinas a Júlio César. “As investigações foram suficientes para estabelecer um contexto probatório que aponta que a organização criminosa capitaneada pela desembargadora Ilona Reis foi uma das vias de disseminação de corrupção por meio de venda de atos judiciais para legitimação de terras no Oeste baiano, numa dinâmica operacional que contou com atuações criminosas dos advogados Júlio César, Marcelo Junqueira e Fabrício Bôer”, afirma o MPF na denúncia. Segundo o órgão ministerial, a orcrim de Ilona atuou em pelo menos três processos judiciais.

Na denúncia, o MPF adverte que a intenção não é impor qualquer tipo de responsabilização objetiva à magistrada apenas por sua atuação “judicante em matéria complexa, mas apontar evidências de que o entendimento dela teve como elemento catalisador as cifras bilionárias que orbitam os conflitos fundiários do Oeste da Bahia e potenciais vantagens indevidas a serem captadas”. A denúncia vincula à Ilona Reis a movimentação suspeita de R$ 1,496 milhão, pelo recebimento de R$ 24.061,64 do zelador Reinaldo Santana Bispo, que, pela função que exerce, não teria como dispor desse valor. O zelador recebeu R$ 1 mil da JJf Holding de Investimentos e da Geciane Maturino Eireli, empresas de lavagem de dinheiro utilizadas por Adailton Maturino.

Além do recebimento integral da denúncia, o MPF requer ao STJ que sejam decretados a perda da função pública dos denunciados e o perdimento do produto e proveito dos crimes, ou de seu equivalente, no valor mínimo de R$ 300 mil, correspondente à soma da lavagem no esquema apurado, que deverá ser atualizada com juros e correção monetária, de acordo com o previsto na Lei de Lavagem de Capitais.

Também pede que os denunciados sejam condenados ao pagamento de indenização por danos morais coletivos no valor de R$ 800 mil, acrescido de juros de mora e de correção monetária, correspondente ao montante de dinheiro veiculado na engenharia financeira operada pela orcrim, “pois os prejuízos decorrentes dos crimes de organização criminosa e lavagem são difusos e pluriofensivos, e deram causa, ilicitamente, ao descrédito do mais elevado órgão do Poder Judiciário local perante a sociedade”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fonte: BNews, 30/12/2020

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