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Justiça absolve médico acusado de jogar ex do 5º andar de prédio em Armação

O médico Rodolfo Cordeiro Lucas foi absolvido pela Justiça baiana da acusação de tentar matar a médica Sattia Lorena Aleixo, em julho do ano passado. A vítima sobreviveu após cair do quinto andar do prédio em que morava, em Armação, durante uma briga. Ainda cabe recurso.

A decisão foi tomada no último dia 7 pelo juiz Vilebaldo José de Freitas Pereira, do 1º Juízo da 2ª Vara do Tribunal do Júri, informou nesta quinta-feira (17) o Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA). O pedido de absolvição veio do Ministério Público da Bahia (MP-BA) que, com base em laudos periciais, inclusive na reprodução simulada, acredita que “não há provas de crime de tentativa de homicídio.”

De acordo com o despacho do MP, Sattia tentou “cometer suicídio” e não há indícios que o acusado tenha instigado ou ajudado a vítima a cometer o ato. Apesar disso, o promotor responsável reconhece que o relacionamento entre os dois não era saudável.

O médico foi denunciado pelo MP em julho do ano passado, acusado de feminicídio. A Justiça recebeu a denúncia em agosto, tornando Rodolfo réu. Ele chegou a ser preso em flagrante na época do caso, mas foi solto pouco depois por decisão judicial e respondia em liberdade.

Na época, a denúncia afirmou que Rodolfo, após agredir Sattia, empurrou-a na direção da janela do quarto do casal do apartamento residencial, o Edifício Serra do Mar, e, em seguida, forçou que as suas mãos, que ficaram dependuradas na janela, se desprendessem. Sattia caiu de uma altura de 15,5 m.

O documento também especifica a “existência de um relacionamento tóxico, no qual o denunciado vivia atormentando a vítima”.

A reportagem não conseguiu contato com Sattia para comentar a decisão.

Relembre o caso
Na madrugada do dia 20 de julho de 2020, Sattia caiu do 5º andar do prédio em que vivia com Rodolfo. O médico, que chegou a ser preso em flagrante, afirmou que ela tinha pulado da janela depois de uma briga, em uma tentativa de suicídio. O inquérito policial concluiu que, na verdade, houve uma tentativa de feminicídio, o que Rodolfo sempre negou.

Em agosto de 2021, o juiz Vilebaldo José Pereira recebeu a denúncia do MP-BA. Com isso, Rodolfo deixou de ser suspeito do crime e passou a ser réu do processo em que é acusado de cometer o crime de feminicídio na modalidade tentada. A instância ainda solicitou, por meio do promotor de Justiça Davi Gallo, que a Justiça decretasse a prisão preventiva do médico, o que não se concretizou.

Médica ficou internada após queda e ao acordar chegou a ter problemas de memória (Foto: Reprodução)
Um mês depois da queda, Sattia acordou e foi ouvida pela Polícia Civil. “A vítima acordou, está consciente, mas em decorrência do trauma que ela sofreu, comprometeu a memória recente dela”, explicou a delegada Bianca Torres, da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam), na ocasião.

Em setembro do ano passado, ela foi ouvida pela segunda vez, negou ter pulado do prédio e afirmou que sofria ameaças de Rodolfo. No depoimento, ela afirmou que lembrava de Rodolfo a segurando pelo pescoço e ameaçando cortar o rosto dela, além de dizer que ia “acabar com ela”.

O que diz o Ministério Público?
De acordo com documento assinado pelo promotor Fernando Lucas Carvalho Villar de Souza ao juiz Vilebaldo José de Freitas Pereira, testemunhas apontam a inocência de Rodolfo.

O namorado de uma vizinha de Rodolfo e Sattia, que reside no quarto andar, afirmou que viu a mulher “passar uma perna e depois a outra, ficando pendurada na janela” e que conversou com a vítima, quando ela estava pendurada na janela, pedindo que ela não fizesse aquilo. Ela respondeu que “não aguentava mais”.

O órgão reforçou contradições entre as declarações prestadas pela mulher. A vítima afirmou que um medicamento rivotril encontrado no seu carro, segundo perícia, pertencia ao acusado – o remédio é um ansiolítico. A atendente da farmácia que deu depoimento, no entanto, afirmou que Sattia era compradora, prescritora e paciente. De acordo com o MP, o laudo de exame toxicológico detectou uma mistura de medicamentos de uso controlado, que “devido aos seus efeitos diversos, poderia ter deixado a mulher fora do seu controle”.

A perícia também encontrou mensagens com ideias suicidas no telefone de Sattia, que alega que o autor foi o Rodolfo, que tinha acesso ao seu celular. Ela teria informado a um astrólogo, no entanto, que possuía ideias suicidas e tinha acesso a remédios que poderiam tirar sua vida.

A alegação final afirma, por fim, que Rodolfo tentou salvar sua vida, mesmo reconhecendo ser “perceptível” que o relacionamento entre os envolvidos, não era saudável.

Correio/BA, 17/11/2022

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